sexta-feira, 30 de março de 2007

sorte?!?

eu tenho creditado à sorte muitas coisas em minha vida. desejado que a sorte me acompanhe para que eu não sofra.
sorte??? uma ova! eu quero mais é que as coisas dêem certo sem a minha interferência. deixando nas mãos de outrem. me escondo numa tal de sorte, ou destino para os mais místicos, para não arcar com conseqüências desastrosas se algo não sair conforme o esperado. assim, tenho a quem responsabilizar, alguém que não seja eu. e assim, não precise me dar de cara com meus fracassos. não precisarei que eles sejam as criaturas horrendas a me chamar dentro do armário no meio da noite. visto a armadura da fortaleza, um guerreiro de filme hollywoodiano, que sabe que vai sobreviver no final, porque pode culpar os outros, porque eles sempre serão mais fracos, mais covardes e mais vis. e consagrar o meu happy end com a compreensão de ser a mocinha da historia. cruel isso? você até pode me julgar. e sei que vai. mas e o vilão? o vilão é sempre outro. mocinhos? cujo ponto fraco descobrimos por meio da intuição? o que seria de popaye sem espinafre? o que seria de superman numa overdose de criptonita?o que seria de he-man sem sua espada e os poderes de “graiscoou!” o que seria do batman sem alfred??? robin? mero coadjuvante. o que seria de nós sem o humano, demasiado humano? apenas animais. instinto? não. sorte! destino! algo que encontraram e que os fazem fortes! algo que encontramos, e que nos faz forte! tenho visto... e tenho lido... é nisso que o ser humano acredita. por mais que negue. na sorte. a cada dia, a cada alvorecer, é na sorte que se credita os maiores pontos. na sorte que irá iluminar seus filhos, quando a guerra estiver no auge. na sorte... que irá defende-los... quando tudo que sobrar serão armas (“que consigam desviar das saraivadas!”). na sorte que lhes dará um abrigo. na sorte que lhes dará comida. na sorte que lhes dá água, pura pra beber. na sorte de se manterem vivos. e na sorte de algo que os diferenciará do puro instinto. e na sorte de se manterem homens.sorte... muitos créditos para essa tal de sorte. tenho dado muitos créditos a ela. apenas palavra atenuante para conseqüências.
tem sempre esses dias de angústia. dias em que se quer é largar o corpo em qualquer canto e sair para passear, sob a chuva. mas a chuva é fria, a chuva pesa, a chuva pesa, a chuva fala, grita. e a chuva corta. que é pra ninguém sair quando ela chega. ninguém quer ouvir os segredos da chuva. nem ela.
ela esteve por muito tempo ligada aos acontecimentos, à espreita do próximo passo. agora só quer que as coisas aconteçam, sem ela.
ela esteve, por tempo demais, preocupada. admite e aceita os ombros curvados, pelo peso de suas indagações. agora só deseja ser indiferente, poder caminhar sobre o limiar de uma falsa liberdade.
mas há sempre uma parte do nada a ser vivenciado.
ela gostaria de se abster de alguns sentimentos. mas como?
se a grande razão que a move é, senão, essa angústia que ali reside?
ela queria aceitar o fato de que: nem de fato, nem de direito, é louca! e assim acreditar que não sabe voar.
acreditar que o medo do que não sabe, do que ainda não lhe contaram é o que a faz encher os pulmões de ar a cada manhã.
ela queria ser enganda, sem saber que está sendo enganada e sem ter sequer a noção de que talvez possa estar sendo enganada.
ela queria não ser condescendente com o que não lhe mostram. ter coragem de espiar pelo buraco da fechadura dos sentimentos dos outros e suportar a dor que isso causa.
ela queria não saber que nunca se deve mencionar o caminho. para não ter que passar por ele.
ela queria se dar conta, de que nas palavras ditas, reside o abismo das coisas não ditas. e poder ser ludibriada sem culpa.
ela queria que seu apego pela razão, não lhe fosse maio do que o seu direito ao devaneio. e talvez assim, não visse as coisas cruas diante do espelho.
há tanto querer nela... tanto. mas o que ela não quer?
não quer saber dos segredos da chuva, nem admitir que o peso sobre os ombros a faz menor do que já é.
mas por alguma razão, ou ironia... tem sempre esses dias de angúsita.
e ela vê a verdade.