não tenho suportado o escuro, o silêncio. e não reconheço mais em mim as coisas que antes me interessavam. tenho andado sem rumo por entre as ruas. observando as pessoas como se elas fizessem parte de um filme, o meu filme, como se realmente importassem, estranho, estranho. estou mais solícita e compreensiva, irritante. numa compulsão horrível por viver. por sentir. uma fome de todos os sabores possíveis, de querer abrir a boca e comer o mundo de uma vez só. boicotar todas as estratégias, psicologicamente tão complexas e tão idiotas, de me esquivar da dor, querendo ser arrebatada por todas essas sensações tão humanas. e tão estranhas a mim. mas ainda conservo um certo ar blasé para disfarçar a minha humanidade. disfarçar de quem?
um passo de cada vez, você me diz. mas como exigir de uma criança que está aprendendo a andar, e está indo em direção ao brinquedo que acabara de ganhar, um passo de cada vez? ela tropeçará, caíra, chorará até ficar roxa. assim como eu, tropeçarei, cairei, chorarei até não ter mais pulmões. mas enfim chegarei ao meu brinquedo novo, e o agarrarei com todas as forças e ficarei por horas, dias e até séculos contemplando fascinada, e finalmente livre.
seu brinquedo novo? – você pergunta.
sim. – eu respondo. totalmente novo: a vida.
um passo de cada vez, você me diz. mas como exigir de uma criança que está aprendendo a andar, e está indo em direção ao brinquedo que acabara de ganhar, um passo de cada vez? ela tropeçará, caíra, chorará até ficar roxa. assim como eu, tropeçarei, cairei, chorarei até não ter mais pulmões. mas enfim chegarei ao meu brinquedo novo, e o agarrarei com todas as forças e ficarei por horas, dias e até séculos contemplando fascinada, e finalmente livre.
seu brinquedo novo? – você pergunta.
sim. – eu respondo. totalmente novo: a vida.