Frágil. Frágil. Frágil.
Palavras sussurradas.
Como, de repente, você pode olhar para o mundo e se sentir nua?
Olhar as pessoas que passam e sentir uma estranha e irracional irritação, beirando à raiva.
Frágil.
Quem elas pensam que são pra te deixar assim? – você pensa e pena.
Quem o mundo pensa que é pra te esmagar com sua grandeza, e jogar na sua cara o quão insignificante você é?
Aí você pára.
Simplesmente estaca na rua.
E começa a perceber realmente a pequenez da sua vidinha de merda.
Você está ali.
E o corpo parece pesar.
E se contrai.
Mas você continua andando, tem que andar, e anda depressa.
Como se tivesse o próprio demônio ou até deus no seu encalço.
Mas você sabe – ah... você sabe – que foge daquela estranha pessoa que começa a se mostrar e que te deixa inteiramente...inteiramente...inteira...mente...inteira...
Ela continua atrás de você.
E você atravessa a rua, disputando a faixa de pedestres com rostos assustadores, rezando para que ninguém perceba a outra que está praticamente em cima de você, roçando em seu ombro.
E corre para dentro de outro ônibus, senta no fundo e finge olhar pela janela, querendo se misturar com o vidro.
Talvez ela não te veja, talvez resolva sentar na frente e desista de te perseguir.
Mas você levanta os olhos e ali está ela. Sentando ao seu lado e tocando levemente a sua mão.
E você vê que não pode mais fugir. E ela diz: “Hello stranger!”.
Um sorriso involuntário brota no rosto e você percebe que quase consegue gostar dela. Um amor suplicante.
Mas logo ela olha diretamente no fundo, bem no fundo dos seus olhos e retira deles uma furtiva lágrima.
E você tenta reter, suplicando: “Isso é meu!”.
Inútil.
A mão quase transparente já colheu o que te era mais sagrado.
A sua doçura, a sua pureza.
E você se torna quebrável, atingível, humana...
Docemente, angustiantemente, frágil.
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