quarta-feira, 22 de dezembro de 2010


Frágil. Frágil. Frágil.

Palavras sussurradas.

Como, de repente, você pode olhar para o mundo e se sentir nua?

Olhar as pessoas que passam e sentir uma estranha e irracional irritação, beirando à raiva.

Frágil.

Quem elas pensam que são pra te deixar assim? – você pensa e pena.

Quem o mundo pensa que é pra te esmagar com sua grandeza, e jogar na sua cara o quão insignificante você é?

Aí você pára.

Simplesmente estaca na rua.

E começa a perceber realmente a pequenez da sua vidinha de merda.

Você está ali.

E o corpo parece pesar.

E se contrai.

Mas você continua andando, tem que andar, e anda depressa.

Como se tivesse o próprio demônio ou até deus no seu encalço.

Mas você sabe – ah... você sabe – que foge daquela estranha pessoa que começa a se mostrar e que te deixa inteiramente...inteiramente...inteira...mente...inteira...

Ela continua atrás de você.

E você atravessa a rua, disputando a faixa de pedestres com rostos assustadores, rezando para que ninguém perceba a outra que está praticamente em cima de você, roçando em seu ombro.

E corre para dentro de outro ônibus, senta no fundo e finge olhar pela janela, querendo se misturar com o vidro.

Talvez ela não te veja, talvez resolva sentar na frente e desista de te perseguir.

Mas você levanta os olhos e ali está ela. Sentando ao seu lado e tocando levemente a sua mão.

E você vê que não pode mais fugir. E ela diz: “Hello stranger!”.

Um sorriso involuntário brota no rosto e você percebe que quase consegue gostar dela. Um amor suplicante.

Mas logo ela olha diretamente no fundo, bem no fundo dos seus olhos e retira deles uma furtiva lágrima.

E você tenta reter, suplicando: “Isso é meu!”.

Inútil.

A mão quase transparente já colheu o que te era mais sagrado.

A sua doçura, a sua pureza.

E você se torna quebrável, atingível, humana...

Docemente, angustiantemente, frágil.

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