tem sempre esses dias de angústia. dias em que se quer é largar o corpo em qualquer canto e sair para passear, sob a chuva. mas a chuva é fria, a chuva pesa, a chuva pesa, a chuva fala, grita. e a chuva corta. que é pra ninguém sair quando ela chega. ninguém quer ouvir os segredos da chuva. nem ela.
ela esteve por muito tempo ligada aos acontecimentos, à espreita do próximo passo. agora só quer que as coisas aconteçam, sem ela.
ela esteve, por tempo demais, preocupada. admite e aceita os ombros curvados, pelo peso de suas indagações. agora só deseja ser indiferente, poder caminhar sobre o limiar de uma falsa liberdade.
mas há sempre uma parte do nada a ser vivenciado.
ela gostaria de se abster de alguns sentimentos. mas como?
se a grande razão que a move é, senão, essa angústia que ali reside?
ela queria aceitar o fato de que: nem de fato, nem de direito, é louca! e assim acreditar que não sabe voar.
acreditar que o medo do que não sabe, do que ainda não lhe contaram é o que a faz encher os pulmões de ar a cada manhã.
ela queria ser enganda, sem saber que está sendo enganada e sem ter sequer a noção de que talvez possa estar sendo enganada.
ela queria não ser condescendente com o que não lhe mostram. ter coragem de espiar pelo buraco da fechadura dos sentimentos dos outros e suportar a dor que isso causa.
ela queria não saber que nunca se deve mencionar o caminho. para não ter que passar por ele.
ela queria se dar conta, de que nas palavras ditas, reside o abismo das coisas não ditas. e poder ser ludibriada sem culpa.
ela queria que seu apego pela razão, não lhe fosse maio do que o seu direito ao devaneio. e talvez assim, não visse as coisas cruas diante do espelho.
há tanto querer nela... tanto. mas o que ela não quer?
não quer saber dos segredos da chuva, nem admitir que o peso sobre os ombros a faz menor do que já é.
mas por alguma razão, ou ironia... tem sempre esses dias de angúsita.
e ela vê a verdade.
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