terça-feira, 10 de abril de 2007

nada.


lispector está me enlouquecendo. a cada página comida, tenho uma indigestão literária, e sinto ela percorrer minhas entranhas, viciando meu sangue. uma bomba-relógio prestes a explodir no alvo, meu cérebro. e tenho que vomitá-la. palavras jorrantes, que saem de mim e sujam o pedaço de papel. não quero mais isso no meu corpo. veneno sem antídoto. maldita hora em que a encontrei, ou foi ela que me encontrou? já não sei, ela é traiçoeira. atrai, seduz... envolve em sua teia e enlouquece e mata. mas não há como escapar, a paixão é instantânea. começa com receio, aquele olhar desconfiado para a estante, olhar de quem se pergunta que tesouro há escondido no calhamaço de folhas à frente... o receio é transformado em ousadia, afinal, o que pode haver de tão perigoso num amontoado de palavras? a ousadia se transforma em coragem, e aí... aí não há como voltar atrás, você já foi pego. e então a volúpia e até uma espécie de luxúria competem com a razão enquanto você mergulha cada vez mais profundamente nas palavras, que se juntam em linhas para parecerem comuns, banais... ledo engano. nada mais é banal dali por diante. exatamente nada. e até o nada.
e só resta a loucura e lispector continua me enlouquecendo e preciso alimentar essa loucura, dia após dia, noite após noite, uma fome insaciável desse alimento, que me causa indigestão, e vomito mais uma vez as palavras num pedaço de papel. exatamente como agora.

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